Doroteia tornou-se mártir da fé, nos primeiros séculos da era cristã: foi decapitada na região de Cesareia da Capadócia, hoje território da Turquia.
Além do registro de sua fé inabalável em Jesus Cristo, de sua constância na luta contra os perseguidores do cristianismo e de seu martírio, ocorrido no começo do século IV, ano 304, a vida de Doroteia permaneceu sempre envolvida em lenda e poesia.
Conta-se que ela foi entregue a duas jovens que haviam renegado a fé cristã. A intenção do governador Fabrício era que Doroteia se deixasse convencer a abandonar o seguimento de Jesus. Mas aconteceu o contrário: as jovens reanimaram-se na fé e voltaram à comunidade cristã. O governador, cada vez mais desafiado, cresceu em ira e condenou Doroteia à morte pela espada.
Era inverno rigoroso. As árvores exibiam seus galhos desfolhados, brancos de neve. Impossível qualquer flor e qualquer fruta. No caminho para o local do seu suplício, Doroteia exclamou misticamente: “Feliz de mim que estou indo para uma nova pátria. Lá, o ar é mais suave, mais claro o brilho do sol; conhecerei campos mais verdejantes e fontes cristalinas, onde facilmente amadurecem flores e frutos.”
Teófilo, espírito mordaz que não perdia ocasião de ironizar e ridicularizar a fé dos cristãos, disse a Doroteia: “Escuta, seguidora de Cristo, manda-me rosas e maçãs dos jardins e pomares de que estás a falar.” Ao que Doroteia respondeu: “Não duvides: o que desejas, hoje mesmo o terás.”
Chegando ao lugar de seu martírio, Doroteia rezava, quando viu à sua frente um jovem de aparência angelical. Ele lhe ofereceu três maçãs e três rosas perfeitas e belas.
Vendo o presente, Doroteia exclamou: “Leva a Teófilo estes dons, dizendo que são as flores e os frutos que eu lhe prometi mandar dos campos do meu escolhido.” Dito isto, seu algoz pôs termo à sua existência terrestre com um único golpe de espada.
Teófilo recebeu o presente de Doroteia e foi tomado de extremo espanto e admiração ao ter em mãos o que lhe prometera a jovem cristã: flores e frutos em tempo de inóspito e rigoroso inverno.
De zombador, Teófilo tornou-se admirador do cristianismo e, com o tempo, professou também sua fé em Jesus Cristo.
O episódio da conversão de Teófilo inspirou os artistas medievais: Doroteia, sentada aos pés da Virgem Maria tendo ao colo o Menino Jesus; Doroteia tem numa mão um feixe de margaridas, na outra uma cesta cheia de flores e frutos. A cabeça está coroada de rosas. Em outras representações, a cesta está nas mãos de um anjo encarregado de levá-la a Teófilo, estando o mensageiro ao lado direito da Santa.
A Igreja também celebra hoje a memória dos bem-aventurados: Severino Girauld e João Francisco Burté.