Olá queridos amigos,
Continuando a reflexão sobre os livros sapienciais, hoje falaremos sobre o Cântico dos Cânticos.
1- Introdução:
O título deste pequeno livro é, na realidade, um superlativo, algo como: “o Cântico mais bonito”; o melhor cântico; “o canto por excelência”
2- Autoria e Data:
É tradicionalmente atribuído a Salomão, mas ele não é o autor. A linguagem do livro é muito posterior a Salomão, provavelmente foi escrito por volta da primeira metade do séc. IV a.C.
3- Comentário:
O tema é o amor de Salomão pela Sulamita (a mulher digna de Salomão, uma interpretação alegórica – o esposo Deus e a esposa a filha de Sionou seja o povo de Israel) que é guarda de vinhas e pastora.
O Autor do Cântico quis descrever as peripécias do amor que nasceu, após muitas vicissitudes, se consuma nas núpcias, para ilustrar o relacionamento vigente entre Javé, o Deus da Aliança, e Israel, o povo de dura cerviz rebelde.
Em perspectiva Cristã, pode-se identificar o Cristo com o Esposo do Cântico e a Igreja com a Esposa. Mais particularmente ainda, os místicos cristãos consideram sob figura da Esposa a Virgem Maria, e, por último, toda e qualquer alma fiel. Sem dúvida, o amor de Deus se revela, de modo muito vivo, na Paixão do Senhor Jesus, quando Cristo se entrega pelos pecadores, contrariando todas as regras do bom senso humano.
Cenas de veemente amor e as descrições minuciosas da figura da esposa não devem escandalizar o leitor, mas lembram-lhe o estilo dos orientais, sempre dado a termos concretos e exuberantes; tais passagens devem levar a compreender ainda melhor o extraordinário amor de Deus pelo seu povo. Os grandes místicos descobrem no Cânticos dos Cânticos as fases da Vida Espiritual.
Os diversos poemas descrevem o curso deste amor: Começa com o primeiro despontar até a união nupcial, passando por fases de hesitação. Não existe uma sequência lógica, todavia existe uma evolução progressiva em sentido do amor. Não fala de Deus, apresenta cenas de forte paixão; é o que tem provocado estranheza através dos séculos suscitando outras interpretações.
Vejamos algumas:
O Cântico é um poema de amor (uma coleção de poemas de amor), com os temas típicos e os tópicos dos cantos de amor de todas as épocas(apresenta notadas semelhanças com canções de amor egípcias e sírias).
No decurso dos séculos o Cântico foi interpretado de muitas maneiras, mas nenhuma obteve a aceitação universal. Os dois enfoques dominantes são os seguintes:
a) Interpretação Alegórica: A obra seria uma alegoria, Deus seria o Amado e o povo a amada (João fala de Jesus como noivo e dá a entender que a Igreja é a noiva – talvez por influência do Cântico). Essa linguagem (nupcial) é muito usada por profetas (Oséias, Jeremias e Ezequiel).
b) Interpretação literal: O Cântico é um louvor do amor humano como foi desejado e criado por Deus (Cantos de festa de casamento). No livro não se fala de Deus (diretamente): fala-se do homem e da mulher tal como são: Não é bom que o homem esteja só. Atraindo a atenção para o elemento pessoal do casamento, o Cântico não só proporcionou uma visão mais equilibrada com enriqueceu o conceito de casamento: o amor revela o valor único de uma pessoa e estabelece uma real igualdade entre o homem e a mulher; é significativo que a liberdade de escolha por parte da mulher é aqui pressuposta como coisa evidente. No contexto também se percebe a concepção de união monogâmica e indissolúvel.
Portanto, uma vez reconhecido o amor como elemento constitutivo do casamento, lado a lado com a fundação de uma família, o indivíduo deixou de ser absorvido no grupo. É um passo decisivo no que se concerne ao reconhecimento da dignidade pessoal de todo homem e de toda mulher.
O livro é interessante também do ponto de vista da cultura judaica, pois reproduz costumes matrimoniais até hoje vigentes no povo judeu: assim, por exemplo, a celebração das núpcias na primavera e durante sete dias: tais dias são chamados “a semana do rei”, pois, enquanto duram, o esposo e a esposa fazem as vezes de rei e rainha; antes do dia final, a esposa, tendo uma espada
na mão direita dirige coros que cantam a beleza dos dois nubentes; finalmente, o esposo, acompanhado por seus amigos, vai buscar a esposa à noite e a leva para o seu domicilio.
Em suma, o Cântico dos Cânticos é mais um documento que, do seu modo, atenta o mistério da aliança de Deus com os homens, que enche toda a história sagrada.
Um grande abraço a todos, e que Deus os abençoe.
Pe. Leocádio José Zytkowsky